O
templo da morte tem portas incontáveis,
Como
incontáveis são as almas humanas,
E
infinitos seus estados de consciência.
Pela
porta escura do remorso,
Um
dia penetrou os seus umbrais
Uma
alma que regressava da Terra.
Lá
dentro,
Em
nome do Senhor de todos os latifúndios do Universo,
Pontificava
o Anjo da Justiça.
“Anjo
Bom! – disse-lhe a alma súplice –
Eu
tenho a minhalma coberta de feridas cancerosas!
Cura-me
as chagas purulentas do remorso...
Tenho
os meus olhos vendados
E
uma treva incomensurável na consciência!
Apaga
os meus atrozes padeceres!...“
“Filha
– respondeu compassivo –,
Para
sanar tão estranhas feridas,
Tão
amargos pesares,
Só
há um recurso:
Volta
à Terra!
Lá existe
o Regato das Lágrimas,
Banha-te
nas suas águas cristalinas;
Elas
serão o teu bálsamo consolador
E
curarão a tua cegueira...
Estás
na escuridão absoluta
Pela
ausência da luz, do bem na tua alma!
Mas
o Anjo da Dor irá contigo;
Ele
há de te guiar através das sirtes
do
mar encapelado dos sofrimentos,
E te
conduzirá ao lugar bendito
onde
existem as lágrimas salvadoras!...”
E a
pobre regressou...
Conduzida
pela Dor,
Banhou-se
na água lustral dos tormentos,
Submergiu-se
no regato encantado,
de
cuja fonte límpida promana a Salvação.
E
depois de haver percorrido
Tão
tortuosos caminhos,
Inçados
de perigos
E de
dores amargas,
Reconheceu
o luminoso Anjo da Dor...
E
nos seus braços magnânimos e compassivos,
Penetrou
no templo misterioso da morte
Pela
porta maravilhosa da Redenção.
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Livro:
Parnaso de Além-Túmulo
Médium:
Francisco Cândido Xavier
Autor
Espiritual: Espíritos Diversos
Ano:
1932